Capítulo 11: Musgo

Continente de Eversephsa
Reino de Theotgrad
Região de Dissyith Baktah no feudo de Dakmar
Interior da caverna Rashaag na ilha de Cythir Xuseror

 

Data indefinida…

 

                - Ah, que ótimo! – Elhud falou enquanto se vestia e recolhia seus equipamentos do chão. – Quer dizer então que estamos presos aqui com essas coisas? Que tal chamarmos também os diabretes e darmos logo uma grande festa?

                - Shiu! – disse a caçadora enquanto posicionava outra flecha no arco e olhava para escuridão adiante.

                - "Shiu"?! Você fez "shiu" pra mim?! Você vai ver só o "shiu"!

                - Silêncio! – Iuha sussurrou em tom sério. – Acho que ouvi alguma coisa.

 

                O grupo voltou a erguer suas armas e se preparou, mas segundos se passaram e nada aconteceu.

 

Gathes (mercenário)
                - O que você ouviu afinal? – Elhud perguntou sussurrando.

                - Eu não sei.

                - Então vamos descobrir. – Gathes guardou a montante e desembainhou sua outra espada, menor e mais apropriada para o espaço adiante. Então fez sinal para que o grupo o acompanhasse.

 

                Poucos passos os colocaram de volta na passagem da caverna cujas paredes estavam completamente cobertas por aquele estranho musgo escuro.

                A própria luz dos lampiões parecia ser absorvida pelas plantas e mesmo os sons que produziam ao se mover eram ligeiramente mais abafados.

 

                - O que é esse negócio afinal? - Nathur perguntou, sem saber ao certo se devia se aproximar para investigar ou não.

                - Parece algum tipo esquisito de planta. – Medran respondeu erguendo mais o lampião para que pudessem ver melhor.

 

                Algo então se moveu e o som foi captado por Iuha que se virou imediatamente apontando sua flecha.

 

                - O que foi? – Elhud perguntou.

                - Tem alguma coisa bem ali na parede.

 

                Segurando firme a espada em sua mão direita, Gathes se aproximou.

                O musgo se movia de quando em quando, com movimentos sem ritmo definido como se houvesse algo por trás empurrando.

                Sem pensar duas vezes, o mercenário deu um soco com a mão esquerda, rasgando o tecido formado pelas plantas e enfiando sua mão em uma cavidade na parede de pedra.

                Sem atingir nada de imediato, decidiu enfiar um pouco mais do braço para dentro e assim sentiu seus dedos tocando algo frio e pegajoso que agarrou e puxou pra fora de uma só vez.

                Em seu movimento Gathes arremessou aos pés do grupo uma criança, algo pouco maior que um bebe, exatamente no mesmo estado que os outros zumbis que ainda há pouco eles haviam eliminado.

 

                - Uma criança? – Medran arregalou os olhos e mesmo Iuha seu arco por um momento. – Por quê?

                - A história de um demônio aprisionado aqui começa a fazer cada vez mais sentido. – a caçadora falou, preferindo desviar o olhar para qualquer outro canto menos chocante.

                - Há um buraco aqui... – Nathur disse enquanto removia um pouco mais do musgo onde Gathes havia enfiado a mão. – E pelo visto não é o único.

 

                Sabendo o que procurar, Medran e Nathur rasgaram o tecido formado pelas plantas e outras três cavidades foram encontradas. Corpos de adultos estavam ali, deitados e completamente imóveis.

 

                - Então foi daqui que eles vieram? – Elhud perguntou, voltando sua atenção para os corpos. – Quantos serão?

                - Mais do que a gente da conta. – Gathes concluiu com uma breve olhada ao redor antes de garantir que a criança finalmente pudesse descansar em paz. – Temos de sair daqui.

 

                Foi então que os olhares se voltaram para Soe que se afastava caminhando lentamente em direção a uma das paredes cobertas.

                Diante daquela camada espessa e escura de musgo, ela inclinou a cabeça para o lado, aproximando sua orelha como se tentasse ouvir alguma coisa.

 

                - Tem algo sussurrando... – ela falou baixinho, mas tão logo suas palavras foram pronunciadas, um par de braços pálidos saiu da parede e a alcançou, a puxando para dentro com tamanha força e velocidade que antes de qualquer reação, metade do seu corpo já havia desaparecido e seus pés balançavam no ar.

 

                - Soe! – Medran gritou e o grupo correu em seu auxílio.

 

                Eles agarram suas pernas e somaram suas forças contra o que quer que estivesse tentando leva-la.

 

                - Mas que porcaria foi essa?! – Elhud exclamou quando o corpo de Soe finalmente despencou para fora depois de alguns puxões.

 

                O corpo da garota veio levitando conforme era trazido pra fora, alheio a gravidade até estar completamente parado em pleno ar. E então... Despencou. Como se de repente lembrasse que deveria cair.

                Nathur se adiantou e arrancou de uma só vez o musgo da parede onde tudo havia acabado de acontecer. Esperava encontrar uma cavidade e dentro dela a criatura que havia puxado Soe, mas ao invés disso tudo o que viu foi uma parede sólida de pedra.

 

                - Ela... Entrou na parede? - perguntou e voltou sua atenção para Medran esperando que ela pudesse explicar. – Não tem nada aqui.

 

                Por mais que palpasse e esfregasse a mão, tudo o que o bardo conseguia sentir era a pedra áspera e úmida da caverna.

 

                - Como ela esta? – Gathes se aproximou parecendo genuinamente preocupado enquanto Iuha cuidava de Soe, buscando por qualquer sinal de ferimento.

                - Desmaiada, mas sem sangramentos. Aparentemente nada quebrado... – olhou para Gathes. – Ela vai viver, mas talvez forme um galo.

                - Ufa. – ele respirou fundo. Nada seria pior do que ficar sem pagamento.

 

                O grupo ainda estava confuso, tentando entender o que havia acontecido ali, quando um som grave pode ser ouvido ao mesmo tempo em que Soe abria seus olhos de uma só vez.

 

                - Você está bem? – Iuha perguntou ao perceber que ela havia acordado, mas não houve resposta.

                - Soe? – Elhud tentou enquanto a garota se levantava lentamente.

                - Que barulho foi esse? – Medran perguntou tentando localizar a origem do som.

                - Soe! Elhud gritou, mas foi em vão.

 

                Uma vez de pé, Soe voltou a se mover.

                Completamente alheia a tudo e a todos, caminhando lentamente pela escuridão enquanto se afastava sozinha por uma das passagens da caverna.

 

                - O que deu nela? – a ladra perguntou.

                - Alguma coisa aconteceu.  – Medran segurou mais firme sua maça de combate e respirou fundo. Tinha um mau pressentimento, mas preferiu guardar para si. – Ela parece estar em transe. Talvez nem saiba que estamos aqui.

                - Entendi... Só não diga que va...

                - Vamos segui-la. – Gathes falou enquanto mais uma vez tomava a frente na intenção de não perder a garota de vista.

                - Merda... – Elhud reclamou. – Você tinha que dizer, não é?

Moon Ghost

Escritor, designer, fotografo, musico, programador, ator, jogador, artista marcial e o que mais der na telha. Criador de mundos e alterador de realidades nas horas vagas.

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