Capítulo 06: Uma História

Continente de Eversephsa
Reino de Theotgrad
Região de Dissyith Baktah no feudo de Dakmar
Interior da caverna Rashaag na ilha de Cythir Xuseror


Tarde da décima terceira noite de Tei’samus do quarto ano de Raquin O Grande

 

                - Ah não. Sério isso? - Elhud ergue o lampião olhando para trás ao ouvir o som da pesada porta de pedra fechando atrás de si. O grupo todo volta seus olhares para a escuridão do corredor por onde vieram. – Estamos presos aqui?

                - Se nós conseguimos entrar, então deve ter uma forma de sair. – Gathes aperta o cabo da espada em sua mão enquanto fala. – Preocupe-se com o que pode vir pela frente. Pelo menos sabemos que nossa retaguarda está segura.

 

                Com armas em mãos e passos silenciosos, o grupo avança pelo corredor até chegar a uma sala que parece ter sido expandida e nivelada a partir de uma grande cavidade na caverna.

                Braseiros são encontrados e após serem acesos fica fácil de perceber que estão no exato local ao qual Bericwa faz referencia na página do diário.

                Quatro pilares de um lado e quatro do outro se erguem do chão ao teto. Estão repletos de blocos em relevo onde diversos símbolos estão esculpidos.

                Uma passagem ao centro da sala leva para um segundo espaço circular onde é possível ver algumas pinturas em uma parede. Mais destes símbolos em relevo podem ser observados dividindo as imagens.

 

                - Há sinais de acampamento aqui. – Iuha comenta ao analisar a sala.  – Mas não parece recente.

                - Que eles passaram por aqui nós já sabíamos. – Nathur comenta. – Mas para onde foram?

                - Esses símbolos realmente não fazem o menor sentido. – Medran circunda os pilares, aproximando o lampião das figuras para poder observar melhor. – A maioria deles eu nem sequer conheço.

                - Alguma coisa que indique como abrir novamente a porta? – Elhud pergunta. Assim como Gathes, ela também decidiu permanecer de prontidão caso mais diabretes aparecessem.

                - Nada, mas talvez ela volte a se abrir amanhã. – Medran responde enquanto se reunia com os outros na sala circular.

                - E por que você acha isso?

                - Provavelmente o mecanismo precisa que a luz do sol atinja o cristal no altar para que a porta permaneça aberta. Vai saber que horas são lá fora...

                - Faz sentido. Então é só esperar o sol nascer para a porta se abrir.

                - Aham... – e o tom na voz de Gathes mostrou o quão incrédulo ele estava. – Isso se nada e nem ninguém retirar o cristal do altar...

                - E se houver sol amanhã... – Iuha completou, lembrando a todos que uma tempestade estava a caminho.

                - Ah não! – Elhud fechou os olhos e balançou a cabeça em negação, suspirando tão profundamente quanto podia.

                - Gente! Mas e essa história de amor aqui?!

 

                Nathur parecia tão entretido com as pinturas e mistérios do lugar que permaneceu completamente alheio a todo o dialogo de seus companheiros.

                Ele apontou para a parede com empolgação.

 

                - Na primeira imagem temos essa grande bola de fogo caindo do céu e atingindo o topo da montanha. Até aí nada de novo já que tanto em Polmon quanto em Asadorn essa história é contada. Mas o que será que foi isso?

 

                O grupo dá de ombros, mas observa mais atentamente enquanto o bardo se empolga cada vez mais.

 

                - Aí, essa pintura com esse lindo ser caído sobre a pedra com o corpo repleto de ferimentos...

                - Sim, estamos vendo, Nathur. – Elhud resmunga.

                - Então pula pra terceira onde uma pessoa muito atenciosa e dedicada parece cuidar das feridas do ser.

                - Atenciosa e dedicada? – Gathes pergunta sussurrando.

                - Só concorda... – Iuha replica.

                - Mas o que aconteceu com o rosto dessa pessoa tão amável que esta cuidando dos ferimentos? Olha... Veja bem... Não parece que foi destruído de propósito? Aposto que a história acabou em coração partido.

                - Coração partido? Onde isso, Nathur? – Elhud parece se interessar.

                - Ali óh! Na quarta imagem! A pessoa de rosto destruído está lado a lado ao ser. E ele parece muito bem, por sinal. Provavelmente graças a mulher que o socorreu.

                - Mulher? – Medran pergunta. – Como você sabe?

                - Pelas roupas ué. E então na próxima imagem, o ser flutuando no centro com várias pessoas curvadas o reverenciando. Mas olha ali... Novamente a mulher com o rosto destruído entre elas.

                - Gente... Pra que isso? – Elhud cruza os braços segurando suas adagas e analisando as pinturas como se assistisse a algo muito curioso. – Mas cadê o coração partido?

                - Ali! – Nathur aponta para uma ultima imagem, mais afastada de todas as outras e provavelmente feita por um artista diferente já que até o estilo da pintura não parecia o mesmo. – Olha ali o tal ser celestial com lágrima nos olhos e um buraco no peito. Várias pessoas ao redor dele tentando ajudar.

                - Sim, sim! É mesmo! – Elhud até se aproxima. – E nenhuma delas está com o rosto destruído! Será que a mulher deu um pé na bunda dele?

                - Então esse ser era um deus? – Iuha pergunta enquanto encara Medran, mas a garota parece confusa.

                - Muito bom. Mas nada disso explica os diabretes, nem o que aconteceu com o explorador e muito menos como vamos sair daqui. – Gathes comenta, guardando a espada pela primeira vez em algum tempo e tirando a mochila para descansar.

 

                E isso é o suficiente pra fazer com que Elhud volte a se lembrar da porta e sem perceber bata com a mão ainda suja em sua testa.

Moon Ghost

Escritor, designer, fotografo, musico, programador, ator, jogador, artista marcial e o que mais der na telha. Criador de mundos e alterador de realidades nas horas vagas.

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