Capítulo 01: Natma Nelessis

Continente de Eversephsa
Reino de Theotgrad
Região de Dissyith Baktah no feudo de Dakmar
Vilarejo de Polmon

 


Dia da décima primeira noite de Tei’samus do quarto ano de Raquin O Grande

 

            -
Entrada da loja de magia e feitiços Natma Nelessis
Pelos deuses… - Medran Liroth deixou escapar baixinho assim que adentrou a loja de magia e feitiços Natma Nelessis. Seus olhos azuis acinzentados rapidamente percorrem o lugar enquanto um leve arrepio sobe por sua espinha.

- Este não me parece o tipo de lugar frequentado por deuses… - Iuha Othotan é quem responde. Uma mulher de cabelos negros e com uma notável cicatriz no rosto. - Ou pelo menos não o tipo de deuses para os quais eu rezaria.

- Não é como se eles fossem responder de um jeito ou de outro, não é mesmo? - a garota de cabelo ruivo entrou na conversa. Tinha estampado no rosto um leve sorriso e seus olhos saltavam de objeto a objeto nas prateleiras empoeiradas, considerando se valeria a pena roubar algo daquele lugar.

 

Iuha ergueu as sobrancelhas inclinando levemente a cabeça, talvez concordando silenciosamente enquanto uma quarta pessoa afastava as cortinas que separavam a entrada da loja da rua.

Os olhos de Nathur Kamoe se voltaram para as pessoas ali dentro, especialmente para a velha com cara de poucos amigos no canto escuro que lentamente se movia para frente e para trás em sua cadeira de balanço.


- Essa aqui é Natma Nelessis? - perguntou com voz suave.

- A única. - Gathes Bornula respondeu em um tom sério e um pouco mal humorado enquanto aguardava a passagem ser liberada para poder entrar. - Com licença, mocinha.

 

Interior da loja Natma Nelessis
            Os cinco então se distribuiram pelo interior da loja, afastados uns dos outros e também tão longe quanto possível de toda aquela parafernália suspeita.

Em uma das estantes, mergulhados em um líquido viscoso, um par de olhos ainda conectados a um cérebro parecia observar tudo. Em outra prateleira, Nathur poderia jurar ter visto uma caixa se mexer sozinha.

O conjunto de frascos dispostos numa caixa com tampo de vidro sobre o balcão possua líquidos tão escuros que até mesmo a fraca luz das velas parecia sumir em seus interiores.

Desconfiado, Gathes permaneceu junto a única saída, inibindo sem querer o instinto de Medran que tanto a fazia desejar sair dali.

Sons são ouvidos dos fundos e depois de um breve momento, atravessando a cortina preta, uma jovem surge por trás do balcão. Ela observa o grupo em silêncio sem demonstrar qualquer emoção.


- Você deve ser a Soe. - Iuha inicia a conversa, preferindo não perder mais tempo.

- Enfim, nossa contratante. - Elhud disfarça, desistindo de tentar pegar um anel ao sentir os olhos da velha na cadeira de balanço fixos sobre si e se virando para a garota. - Então? Cythir Xuseror é?

- O lugar é amaldiçoado. - Gathes resmunga da porta. - É o que dizem…

 

Em resposta, Soe retira do bolso um papel e o desdobra sobre o balcão. Ela sabe que aquelas pessoas só estão ali por causa de sua oferta de serviço.

 

- Muita coisa é dita a respeito do lugar, mas na décima quinta noite de Benicola eu contratei um homem chamado Ewarg Bericwa para descobrir a verdade. Ele partiu no dia da primeira noite de Egregoro junto de uma equipe formada por dez homens e me enviou isso na nona noite.

 

Ela estende a carta e Medran toma a frente para alcançá-la.



- Ele encontrou sinais de que em algum momento, houve no interior da caverna de Rashaag algum tipo de culto ou adoração.

- Talvez o que dizem em Asadorn seja verdade então? - Nathur fala ao se aproximar de Medran para também olhar a carta. - Sobre uma divindade estar adormecida ali?

- Eu não sei. Depois disso não houve mais nada e já faz um mês.

- Um mês? - Iuha desvia o olhar para Gathes enquanto considera o tempo e as possibilidades.

- Mortos?

- Ou presos na caverna. Impossibilitados de se comunicar…

- Ewarg é um bom explorador. Não é inexperiente. - Soe fala se dirigindo aos dois.

- Então, o que você quer? Que a gente vá até lá e descubra o que aconteceu? - Gathes cruza os braços e respira fundo. - Você tem como pagar?

 

Ele dá uma nova olhada ao redor, dessa vez mais focado em estimar o possível capital de seu cliente do que se preocupando com toda aquela bruxaria.

A pergunta declarada em voz alta faz com que Elhud também se questione e observe Soe de cima a baixo.

 

- Dez de ouro pra cada um. Metade agora, metade quando voltarmos. - a jovem fala com segurança. - E eu vou junto.

- Equipamentos e suprimentos? - Iuha pergunta.

- Por minha conta.

- E o que acharmos? – Elhud ergue as sobrancelhas e sorri.

- Se não tiver magia, não me interessa. Vocês dividem o restante como quiserem.

 

Todos se calam enquanto avaliam a proposta e por breves segundos somente os fracos sons da rua e o ranger da cadeira de balanço podem ser ouvidos no interior da loja.

Foi Iuha quem tomou a iniciativa.



- Quando partimos?

Moon Ghost

Escritor, designer, fotografo, musico, programador, ator, jogador, artista marcial e o que mais der na telha. Criador de mundos e alterador de realidades nas horas vagas.

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