Capítulo 05: Leituras e métricas

Continente de Eversephsa
Reino de Theotgrad
Região de Dissyith Baktah no feudo de Dakmar
Interior da caverna Rashaag na ilha de Cythir Xuseror

 

Tarde da décima terceira noite de Tei’samus do quarto ano de Raquin O Grande

 

                Alguns minutos se passaram após o fim da luta contra os diabretes e o grupo agora se dividia pelo espaço buscando por pistas que ajudassem a entender o que aconteceu ali.

 

                - O grupo que veio pra cá era de quantos? – Iuha perguntou, observando a diversidade de partes de armadura espalhadas pelo chão.

                - Onze. Bericwa e mais dez. – Soe responde sentindo o efeito da poção de cura agir sobre seu ferimento.

                - E que porcaria é essa aqui? – Elhud estava parada em frente ao altar.

 

                Medran terminou de curar Gathes com sua magia e então foi até a garota para averiguar por conta própria.

 

                - Definitivamente é um altar. – ela comenta dando uma boa olhada na estrutura. – Tenho quase certeza que foi esculpido na própria pedra usando as métricas sagradas.

                - Tá! E o que são “métricas sagradas”?

                - São as proporções divinas de altura, largura e profundidade. A matemática dos deuses...

                - Ah! E tem isso é? – Elhud pergunta em tom de deboche e aponta para uma fenda na superfície do altar. – E o que é esse buraco bem aqui?

                - Eu não sei... Talvez alguma coisa encaixe aí. – Medran volta sua atenção para cima, observando a luz que desce através de um buraco no teto e repousa sobre a fenda.

                - Algo assim? – Soe pergunta erguendo uma haste de metal com uma lamina em uma ponta e um cristal na outra que encontrou junto a um dos diabretes.

                - Eu também achei um negócio aqui. – Nathur fala enquanto balança no alto uma folha de papel. – Parece a página de um diário.

                - E o que está escrito? – Elhud pergunta.

                - Quer ler?

                - Eu não sei ler. Quem aqui sabe ler?

                - Eu sei ler.

                - Ué? Então por que você não lê?

                - Eu vou ler. Só perguntei se você queria ler.

                - Mas eu não sei ler.

                - Eu sei.

                - Sim! Você já disse!

                - Não! – Nathur leva a mão à testa enquanto tenta explicar. - Eu sei que você não sabe ler!!!

                - Que? Você disse que não sabe ler? – Distraída, Elhud pega com Soe a haste de lâmina e cristal. – Gente! Alguém aí sabe ler?

                - Aaaaah!!! Nathur! Por todos os deuses! Lê logo esse porcaria! – Medran grita ainda perto do altar.

 

                Desistindo de discutir e depois de uma breve pausa preenchida por um profundo suspiro, Nathur começa a narrar o conteúdo da página para o restante do grupo.

 

Oitava noite de Egregoro do quarto ano de Raquin O Grande

    Interior da caverna de Rashaag.


    Mais uma vez movemos nosso acampamento.

    Agora nos encontramos num espaço que parece ter sido  esculpido na própria pedra.

    O que antes não devia ser mais do que um grande buraco dentro da caverna, se transformou numa sala adornada por estes pilares circulares que se estendem do chão ao teto.

    A maneira como foram esculpidos destaca relevos onde símbolos estão gravados.

    Alguns parecem ter sido arruinados de propósito. Outros pelo tempo.

    A maioria dos símbolos eu  desconheço e os que penso conhecer não fazem qualquer sentido.

    Ainda assim, acredito estar mais próximo da verdade.

    Um dia toda essa caverna foi um antro de adoração.

    Uma outra sala circular anexa a essa contém vestígios que indicam isso.

    As pinturas na parede deveriam ser o suficiente para explicar a história toda e algumas delas concordam com o que é dito pelos aldeões.

    Estou convicto de que durante a guerra entre os deuses um deles caiu sobre esta montanha e esta foi a tal bola de fogo vinda dos céus.

    O ser estava ferido e se abrigou no interior dessa caverna.

    Há uma pessoa que aparece ao seu lado em diversas pinturas, mas que teve seu rosto destruído em todas elas.

    Em uma das imagens ela aparece cuidando do ser e imagino que tenha sido o motivo de sua recuperação.

    O resto é suposição em cima de borrões…

    Mas o que mais me chamou atenção foi a imagem feita em separado, provavelmente anos depois e não pelo mesmo artista.

    Está numa outra parede e retrata o ser celestial caído com um buraco em seu peito e lágrimas em seus olhos. Pessoas estão ao seu redor, mas a pessoa do rosto destruído não está ali.

    Devo relatar esses achados à minha contratante.

    Amanhã, três homens voltarão à cidade encarregados de trazer provisões e para conseguir cuidados de seus ferimentos.

    Volta e meia é possível ouvir barulhos e risadinhas pela caverna.

    Os homens estão cada vez mais apreensivos e irritados.

    Temem serem mortos durante o sono ou atacados de surpresa enquanto fazem suas necessidades.

    Mas por si isso é algo curioso.

    Se este é um lugar santo, o que raios fazem diabretes aqui?

 

                 - Pilares circulares? Pinturas na parede? – Iuha olha ao redor procurando qualquer coisa que se assemelhasse a descrição do texto. – Que? Soe, você que recebeu a carta. Essa é mesmo a letra dele?

                 - Sim. Ele deve estar falando de outro lugar na caverna.

                 - Mais importante que isso... Quem é que usa a palavra "antro" pra se referir a um local de "adoração"? - Nathur deixa escapar seu incomodo. - Aposto que há uma boa história por trás de tudo isso.

                 - Tá, mas e agora? A gente faz o que? - Iuha pergunta.

                - Agora a gente testa isso! – Elhud balança a haste na mão enquanto caminha em direção ao altar. Ela posiciona a lamina no espaço da fenda na pedra e se afasta dois passos pra trás.

 

                Apesar de angulada, a luz do sol atinge o cristal na ponta da haste e diversos feixes brilhantes se projetam dali para espaços específicos no teto, metros acima da cabeça do grupo.

                Em poucos segundos um som grave de arrastar tem inicio e pode ser ouvido reverberando alto pelas paredes da caverna.

 

                - Isso deve ter sido a passagem se abrindo. – Nathur comenta. – Alguém mais encontrou alguma coisa?

                - Eu encontrei isso.

 

                O grupo de reúne e Medran se aproxima com um punhado de moedas de prata e alguma coisa envolta em um tecido. Ao desembrulhar, o pacote se revela em uma bela porção de carne fresca.

 

                - Carne? – Soe pergunta desconfiada. – Será...?

 

                E em sincronia todos voltam seus olhares para o homem de membros decepados.

 

                - Eu voto por seguirmos em frente. – Iuha fala com um pouco de nojo no rosto e ajeitando a mochila nas costas. Sem sinais de oposição o grupo apenas começa a se mover.

Moon Ghost

Escritor, designer, fotografo, musico, programador, ator, jogador, artista marcial e o que mais der na telha. Criador de mundos e alterador de realidades nas horas vagas.

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