A luz
entrava pela janela da cozinha.
Sobre a grande mesa de espessas tabuas de madeira,
panelas e pratos repousavam.
O fogão emanava calor com a lenha ainda acesa e o brilho
do fogo atravessava as grades para iluminar Ikaos, deitado sobre o comprido
banco de madeira que ficava ali.
Do lado de fora o vento soprava e a chuva caia em um
gotejar fino e constante.
A grama do jardim, as flores, árvores e a Torre eram
banhadas pelas límpidas gotas que desciam das nuvens acinzentadas.
Yue e Amethista
haviam voltado no dia anterior de onde quer que tenham se embrenhado dessa vez.
Chegaram por volta das vinte e duas horas, no meio da
escuridão da noite. Já estava chovendo naquela ocasião.
Amethista parecia desmaiada e Yue a carregava nos braços
quando adentrou pela porta da sala sem que ele mesmo parecesse estar em melhor
estado. Sua roupa estava rasgada e manchada do sangue que escorria de diversas
feridas junto da água que encharcava a ambos.
Mas agora, no meio daquela melancólica tarde de inverno,
Amethista estava banhada e trocada, confortavelmente deitada em sua cama e
coberta por um agradável edredom que lhe esquentava o corpo. Ainda não havia
recuperado a consciência, então não conseguia ver Yue cochilando na poltrona ao
lado de sua cama.
Ao contrário da garota, ele continuava sujo e ferido.
Ikaos e Iris haviam insistido que ele também cuidasse de
si, mas tudo o que Yue disse a respeito disso foi:
- Farei isso assim que for possível...
Palavras obviamente carregadas com seu costumeiro tom de
indiferença e que indicavam que simplesmente não havia mais nada a se dizer ou
fazer a respeito.
Então Ikaos foi cuidar de sua própria vida, o que na
língua dos gatos costuma significar “ir dormir em outro lugar qualquer” e Iris
se arranjou confortavelmente sobre uma almofada aos pés da cama.
A pequena fada estava decidida a não dormir.
- Eu vou cuidar de você enquanto você cuida da Amethista.
– disse a pequena, mas no final foi a primeira a cair no sono.
Agora era ela quem despertava.
Levantou-se devagar da almofada e se espreguiçou com
vontade, esticando braços e asas para o alto enquanto bocejava e olhava ao
redor. Tudo parecia calmo e em paz, então alçou voou de onde estava e pairou
sobre o rosto de Yue.
- É hora de acordar, Yue. – ela falou docemente. – Está
tudo bem agora. Temos que cuidar das suas feridas.
Iris pousou em seu ombro e lhe beijou a bochecha.
Yue esboçou um sorriso fraco e começou a se mover. Seus
olhos se abriram e contemplou Amethista ressonando baixinho em seu sono.
- Lembre-me dar uma bela bronca quando ela acordar.
– ele murmurou para Iris e a fada sorriu. – Agora chega de te preocupar. Vou
para o banho antes que comece o sermão.
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