Capítulo 8 - Refazendo os Passos

 

 
 

Por que as pessoas rezam?

Por que abaixam suas cabeças e se curvam perante aquilo que chamam de divindade?

Por que imploram por milagres e toda variedade de coisas?

 

“Tudo aquilo que existe pode ser destruído.”

 

Foi o que Yue pensou ao abrir a porta e dar de cara com as três.

A garota do martelo, a de cabelo dividido e ela...

Seu nome era Dara, ele havia ouvido. E agora parecia ainda mais fraca do que horas atrás na floresta.

Se divindades sangram, Yue estava disposto a descobrir.

 

- Misterioso senhor. - Ariadne começou a falar, mas o que quer que fosse dizer se perde no momento em que Yue avança.

 

Quem percebe suas intenções é Nix, a garota de cabelos brancos e pretos que rapidamente utiliza um terceiro braço para impedir seu movimento, agarrando-o pelo pescoço.


- Você tem certeza disso? – ela pergunta com seriedade, mas Yue não responde. Ele nem sequer desvia seus olhos do alvo.

 

Percebendo que tentar dialogar é inútil, Nix arremessa Yue contra a parede do corredor.

 

- Olha, misterioso senhor. – Ary se aproxima em tom apaziguador. – Eu sei que você não gosta da Deusa, mas se você nos acompanhar talvez entenda um pouco melhor o que está acontecendo...

 

Yue ignora Ary.

Ele havia coletado as informações que precisava.

Agora aquela mulher tinha duas aliadas.

Uma que podia utilizar o martelo de forma bem dramática e outra que era rápida, forte e contava com outros braços para lutar.

Talvez em algum momento tivesse que lidar com elas, mas não ali. Não naquele momento.

 

 Então ele apenas pegou suas coisas e se afastou dando as costas ao grupo.

 

Preferia ter dormido mais. Descansado mais.

Uma refeição também viria a calhar.

Naquele estado ainda não havia sequer se recuperado das tentativas falhas de aprimoramento. De tudo, isso era o que provavelmente mais o incomodava.

Mas não faria isso ali.

 

Seguiu então de volta para o bosque, refazendo o caminho em direção ao cristal e buscando por qualquer coisa que pudesse ser somada as suas provisões.

Acabou com algumas frutas a mais. Cinco ao todo. De um tipo que nunca havia visto antes e que não parecia tentado a experimentar tão cedo.

Não quando até sua regeneração parecia não estar colaborando.

Se elas fossem venenosas daria um jeito de descobrir, mas dessa vez não seria comendo.

 

Agora o sol já havia despontado e ele conseguia ver o lugar com mais clareza.

O cristal na árvore.

Parecia uma peça integra, aberta de alguma forma, mas ainda assim tão sólido a ponto de parecer indestrutível.

No chão, ao redor, nenhum fragmento.

Esperava encontrar pelo menos algum pedaço solto. Qualquer coisa. Mas então se tornou óbvio...


“Há quanto tempo os elfos estão vivos? Há quanto tempo isso está aqui?”

 

Se qualquer coisa havia se soltado daquela pedra primordial, os elfos provavelmente haviam encontrado primeiro e guardado em algum lugar seguro ou dado uso.

Talvez ele pudesse fazer algum deles falar...

Isso se primeiro conseguisse faze-lo acordar.

 

"A elfa azul..."

 

Estava imerso em seus pensamentos, abaixado junto ao lago que se formava próximo a árvore que sustentava a pedra, bebendo água e enchendo seu cantil quando ouviu o som.

Yue não foi capaz de identificar a direção em tempo e muito menos se mover com a velocidade que gostaria. Tudo o que conseguiu foi se por de pé antes de mais uma vez acabar preso.

 

- Então foi só você que sobrou aqui...

 

Versales...

E como previsto, exceto por alguns arranhões no rosto, ele não parecia exibir qualquer outro tipo de ferimento.

Nem mesmo sua armadura dava sinais de ter sido danificada.

 

- Eu não quero te ferir ou te matar. Vim para negociar.

- Então você é um desses, não é? – Yue responde em tom calmo e desafiador.

- Um desses?

- Um fraco que ao invés de fazer alguma coisa prefere “conversar e negociar”.

 

O elfo necromante olhou o garoto com curiosidade e desdém.

Diante de si Versales tinha aquele humano ferido, aparentemente sem qualquer tipo de poder e que fora facilmente capturado por sua magia.


- Eu cruzei uma longa distância por entre estrelas... E então, a única coisa que eu buscava escapou das minhas mãos. – continuou a falar, ignorando a insolência do rapaz. - Agora não tenho nenhuma informação que possa me levar até ela. Essas coisas nojentas... Eu só consigo localiza-la caso perca o controle e manifeste seu poder. Então... Preciso de informações. Podemos fazer uma troca...

 

Yue acha graça da proposta e deixa um meio sorriso de desprezo se mostrar em seu rosto depois de ponderar brevemente sobre o que o elfo falou.

               

- Diga... O que você poderia me dar que eu não possa tomar por conta própria?

- Eu não sei. – é a vez de o próprio Versales achar graça.

 

Yue se decide e começa a se concentrar.

Ele utiliza aprimoramento pela terceira vez, mesmo sabendo que naquelas condições inevitavelmente caíra um pesado cansaço irá tomar conta de seu corpo. O sono o fará dormir, mas...

 

“Morrer é melhor que se curvar... Além disso...”

 

Versales nota a resistência de Yue, usando a força de seu corpo para lutar contra a magia que o aprisiona e então o libera de forma a fazer o garoto acreditar que conseguiu o feito por conta própria.

 

“Se ele quisesse me matar já o teria feito.”

 

Resistindo como pode ao sono e cansaço que toma conta de si, Yue ainda arruma forças para se abaixar.

Ele pega sua lança e crava a ponta no chão, se agarrado a ela e voltando a se erguer o melhor que pode.

 

- Então você é isso? – Versales pergunta com desprezo. - Essa criatura sozinha, fraca e sem poder?

 

O que o elfo recebe, no entanto, é um olhar que o despreza com a mesma intensidade, senão maior.


- E ainda assim aqui está você... Fraco o suficiente pra precisar de ajuda de um fraco... Tentando negociar...

 

Sem ter como continuar a resistir, Yue cai em sono profundo e Versales o segura, admirando a força do garoto.

Moon Ghost

Escritor, designer, fotografo, musico, programador, ator, jogador, artista marcial e o que mais der na telha. Criador de mundos e alterador de realidades nas horas vagas.

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