Capítulo 2 - Vermelho Como o Sangue

 

Amarrado sobre um quadrúpede que nunca havia visto antes, Yue pendia para frente sobre as costas do animal.
Alguns homens conversavam animados entre si ao redor de uma fogueira.
Falavam sobre fadas e elfos.
Sobre a próxima cidade.
Sobre a venda dos escravos.

Yue viu o sol e estimou quanto tempo havia passado desacordado.
E então contou.
Os cinco que havia visto estavam ali.
Mais dois atarefados com outras pessoas tão amarradas quanto ele.
Um homem mais distante, sobre as dunas, parecia estar escolhendo o caminho.
...E ali, bem no meio do grupo, sendo servido de bebida e comendo a criatura que Yue havia caçado estava o líder.
 

Espadas... Escudos...
Alguns bêbados demais para ter bom reflexo.

Yue usou aprimoramento e tentou arrebentar as cordas que prendiam suas mãos junto as costas, mas foi em vão.

"Mais fraco do que jamais esteve." - se lembrou.

Então esperou até ser notado.

- Olha só quem acordou! - finalmente um dos bandidos falou. Se aproximou de Yue e o puxou de cima do animal derrubando-o no chão. - Chefe!

Com roupas claramente melhores, cordões de ouro e uma barriga saliente, o homem se aproximou apoiando a mão no cabo da espada.

- Esse homem matou o scrilax! - outro dos bandidos falou com empolgação. - Sozinho!
- Ninguém mata um scrilax sozinho. - replicou um segundo.
- E quem foi que o ajudou então, ahn?
- Alguém ajudou e fugiu quando viu a gente.
- Você tem merda na cabeça, Jagal! FUGIR PRA ONDE NA PORRA DE UM DESERTO?!

Os homens começaram a rir.

- Eu to falando. Ele matou sozinho! Eu vi!
- Você é um mentiroso sem pai nem mãe, Gauin.
- Bem... Isso é verdade.

E riram novamente.

- Desamarrem-no. - o chefe ordenou. - Eu quero ver quão mentiroso é o Gauin.

E dizendo isso, entregou sua espada para seu maior homem enquanto continuava a desfrutar da carne da coxa do tal scrilax.

Yue foi solto e foi colocado de pé enquanto os homens se afastavam formando um circulo ao redor deles.

- Não é para matar o homem, Krugh! - o chefe falou. - Ainda podemos ganhar um bom...

Não houve tempo para terminar a frase.
Com um movimento rápido Yue arrancou a espada da cintura de um dos homens bêbados e imediatamente correu para cima do adversário, pelo menos dez centímetros mais alto que ele.

Uma morte é só uma morte.
Mas se você fizer direito.
Se fizer exatamente com o devido espetáculo.
Uma morte deixa de ser só uma morte e passa a ser uma lição para todos aqueles que ainda vivem.

Krugh tentou desviar, mas a investida de Yue foi apenas uma finta.
Um movimento que cumpriu a função de enganar e tornou possível que ele atingisse o joelho esquerdo do adversário em cheio.
A lamina que não estava muito bem amolada atingiu a articulação provocando o som de ossos moídos e fazendo o homem uivar de dor.
O segundo movimento veio de baixo para cima no braço direito, arrancando membro e arma de uma só vez.

Yue havia acabado de usar pela terceira vez o aprimoramento e sentiu o sono vindo com força.
Mas o trabalho estava feito.
 

 

O terceiro golpe não foi nem de longe tão limpo ou preciso quanto os dois primeiros.
Não foi para abater um inimigo que já estava derrotado e muito menos para acabar com sua dor.

Yue agarrou Krugh pelo cabelo e com a força que lhe restava enfiou a espada através de seu abdômen.
Ele a moveu da direita para esquerda em um corte lento e sofrido.
Um golpe que transformou o silêncio do deserto em grito de dor, tingindo a areia com sangue e tripas.

Antes de cair no sono, Yue ainda teve chance de ver o medo e a surpresa nos olhos dos homens ao redor.


A lição fora aprendida.

Moon Ghost

Escritor, designer, fotografo, musico, programador, ator, jogador, artista marcial e o que mais der na telha. Criador de mundos e alterador de realidades nas horas vagas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário