Yue segurou firme a lança em sua mão e olhou para o grande cristal no centro da árvore.
“Finalmente...”
A excursão no interior do bosque havia se estendido por mais algum tempo antes de Yue e Ary encontrarem marcas e rastros que indicavam um combate.
- Houve uma luta aqui. – a garota falou, analisando o ambiente e se aproximando de uma árvore. – Garras?
Yue não reconheceu o lugar, mas de alguma forma sentiu que estava perto.
Já estavam caminhando por horas e agora, talvez mais por intuição que senso de direção, ele sabia que só precisava continuar se movendo.
E foi o que fez até finalmente saírem em uma grande clareira.
Uma garota de cabelos brancos e pretos estava de joelhos pouco adiante de uma grande árvore onde um cristal se misturava ao tronco.
E junto ao cristal estava ela...
Yue preparou a lança e mais uma vez seu aprimoramento falhou.
Ainda assim, sua arma atravessou o ar com toda a força que conseguiu reunir antes de subitamente parar diante do alvo.
A arma despencou e a garota atravessou o espaço parando diante de Yue.
- Por que está fazendo isso? Eu não entendo.
A resposta veio na forma de um soco que pretendia acertar seu rosto e que mais uma vez foi interrompido.
Yue sentiu como se tivesse atingido alguma espécie de barreira, mas não cedeu.
- O que você quer?
- Devolva as minhas memórias.
- É só isso que você pede? – e ela sorriu em desdém.
- É o que eu ordeno.
- Ordena? – ela riu com ar de desdém. – Um mortal fraco como você?
“Antes de te matar... Sim.”
- Você também não parece grande coisa.
- Feito.
Yue sentiu a convulsão de imagens e sons tomando conta de sua mente.
Ele sabia que havia lutado contra um dos bandidos escravagistas e que tinha transformado a morte do homem em exemplo, mas agora conseguia se lembrar de ter matado também o líder e que os bandidos decidiram segui-lo.
Ele não precisava deles, mas foi como ficou sabendo dos elfos... Da pedra na árvore... E principalmente sobre...
“Imortalidade...?”.
Apenas parte de suas memórias foram devolvidas e com isso a confusão apenas aumentou em seu interior.
Por que ele buscaria imortalidade?
“Afinal...”.
A mulher se afastou, caminhando para junto da criança com o martelo e da garota de cabelos, deixando Yue para trás com seus pensamentos e recordações.
Foi quando um raio de luz desceu dos céus.
O brilho explodiu em um clarão exatamente diante de Yue revelando um elfo de cabelos brancos e armadura negra. Ele carregava um cajado e com um sutil movimento liberou sua magia, fazendo com que uma grande mão surgisse através e prendesse Yue.
O garoto nem sequer esboçou reação.
“Afinal... Eu já aceitei a morte há muito tempo.” – foi o que pensou enquanto o elfo o arrastava, caminhando na direção das três garotas.
- Meu nome é Versales. É ela quem eu quero. Afastem-se e deixarei que vivam.
- Hahahaha! Versales! – a garota de cabelo branco e preto riu.
“Ela não parece tão radiante agora...” – Yue reparou na mulher que havia tomado suas memórias.
- Eu não vou deixar que se aproxime da honorável senhora. – Ariadne falou, segurando firme seu martelo e colocando-se entre a mulher e o elfo.
“Honorável senhora? ”
O que veio a seguir não poderia ser descrito como um combate.
Versales parecia interessado em apenas uma coisa e talvez não estivesse preparado para aquilo, mas Yue estava e tão logo a energia se concentrou no martelo de Ariadne, Yue se desfez da magia que o aprisionava e saltou para o lado, caindo e rolando no chão.
O golpe veio pesado, ecoando como um trovão ao atingir o alvo em cheio.
- Ira Divina! – Ary gritou, balançando seu martelo em direção a Versales, fazendo com que fosse arremessando para trás em alta velocidade, deixando um rastro no chão e na floresta por onde vieram.
Ainda onde havia caído, Yue olhou ao redor.
Aquele havia sido um golpe poderoso, com certeza, mas duvidava que fosse suficiente para acabar com o adversário.
Ele esperou para ver o que Ary faria a seguir.
Perseguir e completar o serviço ou evadir e se preparar... Estas seriam as duas coisas mais óbvias nessa situação.
Mas ao invés disso...
“Elas vão apenas ficar conversando...? Aqui?”
Yue se levantou, recolheu sua lança e seguiu o rastro deixado por Versales.
“Nenhum sinal de sangue... Carne... Ossos... Ou sequer pedaços da armadura.” – percebeu ao chegar as margens da floresta. – “Esse golpe provavelmente nem sequer o machucou.”.
Olhou para trás uma última vez.
Teria que lidar com aquela mulher mais tarde.
Por hora, a prioridade era outra...
Seus passos o levaram de volta para a cidade dos elfos.
Uma fruta, uma capa, um cantil vazio...
Isso foi tudo o que conseguiu encontrar e teria que bastar naquele momento.
Yue já estava cochilando quando ouviu passos.
“Vocês de novo...”
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