Capítulo 15: Desconfiança

Continente de Eversephsa
Reino de Theotgrad
Região de Dissyith Baktah no feudo de Dakmar
Interior da caverna Rashaag na ilha de Cythir Xuseror

 

Data indefinida…

 

                - Você consegue entender o que ele está falando? – Elhud voltou a erguer o arco, dessa vez sem saber ao certo o que fazer ou para quem apontar.

 

                Nathur, no entanto, não hesitou. Seu disparo atingiu a criatura em uma articulação da perna, penetrando fundo na carne através do vão de sua couraça fazendo com que ela voltasse sua atenção na direção do bardo.

                Por um momento o monstro pareceu muito tentado a contra atacar. Curvou-se e dobrou os joelhos como um animal que se prepara para saltar sobre a presa, mas então, mudando subitamente de ideia, se voltou bruscamente para Soe e ergueu suas garras de forma ameaçadora.

 

                - Soe, sai dai! – Nathur gritou enquanto Gathes, temendo pelo pior, se esforçou para levantar. – Iuha! Atira!

                - Se eu errar posso atingir a garota.

 

                O monstro estava prestes a desferir seu ataque quando Soe, indo na contra mão do bom senso fez o impensável e deu um passo a frente, aproximando-se do inimigo.

                A garra veio rápida, um golpe que certamente teria lhe arrancado a cabeça sem qualquer dificuldade, mas que ao invés disso parou milímetros antes de tocar o pescoço da garota.

                Soe então se atreveu mais um passo adiante e mesmo sem qualquer motivo aparente para aquilo, a criatura recuou.

 

                - Que coração? Como assim eu voltei? – ela perguntou, sem perceber o grupo ao seu redor baixando as armas, completamente abismados com o que presenciavam.

 

                Afinal, não é todo dia que se vê um monstro abissal, uma criatura que muito provavelmente não teria qualquer trabalho em eliminar qualquer um ali, recuando diante de uma garota de quinze anos que tenta um dialogo.

                Mesmo Gathes, com tudo o que já havia visto até então como mercenário, estava achando aquilo completamente surreal.


                - Que maldito? - Soe insistiu.


                A criatura rosnou e voltou a baixar sua face diretamente na altura do rosto de Soe, tão próximo que se tivesse olhos os dois estariam se encarando a poucos centímetros de distancia.

 

                - Atar har mierny. Har tenmia. – o monstro voltou a falar entre rosnados em um volume mais baixo como se pretendesse sussurrar. – Atar hari, mia hari, ihi thyor unkrasha tu!


                Dito isso, começou a se afastar lentamente para trás, se encolhendo, derretendo e vaporizando. Se transformando numa mistura de névoa e lama que acabou por se reduzir a forma de uma grande espada de lamina negra.

 

                - Mas que merda foi essa? – Elhud perguntou quando tudo acabou, erguendo seu arco na direção de Soe assim que ela fez menção de recolher a espada caída diante de si. – Hey! Não, não, não! O que você pensa que está fazendo?

 

                A garota parou no lugar ao ouvir Elhud e perceber que ela não era a única desconfiada. Iuha também  estava pronta para atirar e todos os outros voltavam olhares confusos em sua direção.

 

                - Medran, pega a espada. – Elhud falou firme e sem baixar a arma.

                - Eu não sei se quero. – a sacerdotisa resmungou baixinho em tom temeroso.

                - Vai logo!

 

                Soe deu passagem para Medran que recolheu a espada e se afastou rapidamente para junto de Gathes.

 

                - Melhor começar a explicar o que está acontecendo aqui!

                - Calma, Elhud. – Nathur pediu enquanto se aproximava.

                - Calma meus ovo! Você viu ela falando com aquela criatura. – Elhud parecia ter atingido seu limite. Tudo o que haviam passado até então estava mexendo demais com ela. – O que foi que aquele monstro disse por ultimo?

 

                Dando mais um passo para trás e erguendo um pouco as mãos abertas no ar, Soe pareceu ao menos levemente preocupada quando se manteve em silêncio ponderando o que fazer a seguir.

 

                - Vai logo! Fala!

                - Você não vai gostar...

                - FALA! – e a ladra ajustou o arco de forma ameaçadora, como que para ter certeza de que não erraria o alvo.

                - “Você deve acorda-lo. Ele espera por você.” – Soe respondeu e então baixou um pouco a voz. – “Seja ele ou você, esse mundo morre.”.

                - Que ótimo! Me dá um bom motivo pra não atirar em você agora mesmo.

                - Dez moedas de ouro. – Gathes resmungou sério. O sangramento havia parado depois de receber a magia de cura de Medran e já sentia os efeitos regenerativos provocados pela poção. – Você não pode matar nossa contratante.

                - E por que não?

                - Por que isso não vai tirar a gente daqui. – foi Iuha quem falou, já tinha baixado o arco e agora parecia descansar sentada numa pedra. – A menos que você tenha alguma ideia.

                - Eu não confio nela. – Elhud baixou o arco e afrouxou a tensão da corda.

                - Acho que deu pra notar. – Nathur comentou tentando amenizar o clima. – Mas por hora acho que a Iuha tem razão. Ela nos trouxe até aqui... Quem sabe não dá um jeito de sairmos?

 

                Mesmo contrariada, Elhud viu sentido naquelas palavras e depois de um momento pensando acabou devolvendo a flecha para dentro da aljava.

 

                - Pois é. Quem sabe, não é mesmo? – a ladra falou de forma sarcástica e encarando Soe.

                - Podemos dar mais uma olhada nesse lugar? – Medran pediu. – Talvez estejamos deixando passar alguma coisa.

 

                Em silêncio o grupo concordou e em silêncio se espalharam, vasculhando todos os cantos sob a luz da chama dos lampiões.

                E foi assim que nem cinco minutos depois Nathur se pronunciou chamando a atenção de todos.

 

                - Bem... Com certeza estávamos deixando passar algo. – ele falou, encarando algo no chão escondido entre a parede e um conjunto de pedras grandes. – Acho que já podemos voltar pra casa, por que tenho quase certeza que encontrei o tal do Bericwa.

Moon Ghost

Escritor, designer, fotografo, musico, programador, ator, jogador, artista marcial e o que mais der na telha. Criador de mundos e alterador de realidades nas horas vagas.

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