Capítulo 14: Ishtiver

Continente de Eversephsa
Reino de Theotgrad
Região de Dissyith Baktah no feudo de Dakmar
Interior da caverna Rashaag na ilha de Cythir Xuseror

 

Data indefinida…

 

                O tapa veio com força e atingiu o rosto de Soe num estalo alto.

                A garota se inclinou para o lado, mas recobrou a consciência.

 

                - Você voltou? Está acordada? – a voz de Iuha soou séria enquanto segurava Soe pelos ombros e a encarava.

                - O que aconteceu?

                - Você começou a caminhar e nós te seguimos.

                - Eu avisei que isso não era boa ideia! – Elhud gritou de algum lugar e Soe finalmente olhou ao redor.

 

                As palavras de Iuha soaram estranhas ao ouvido da garota.

                Ela olhou ao redor, mas não conseguiu reconhecer aquele lugar e muito menos entender como havia chegado ali.

                Elhud palpava quase desesperadamente uma parede plana enquanto balançava seu lampião buscando por alguma coisa.

                Medran e Nathur a olhavam atentamente e Gathes parecia de prontidão encarando um buraco no centro daquele espaço e imediatamente atrás de Iuha.

 

                - Fiquei com medo de que fosse se jogar aí... – a caçadora apontou o poço com um movimento de cabeça ao perceber para onde Soe olhava.

                - Cadê a saída?

                - Pois é, não é mesmo? – Elhud perguntou em tom irônico, desistindo do que estava fazendo e se virando para o grupo. – Cadê a saída? Espero que você saiba, por que eu não consegui encontrar.

                - A porta se fechou atrás da gente assim que entramos aqui. – Gathes explicou em seu tom resignado e mal humorado.

                - Não havia uma passagem para esse lugar da primeira vez que passamos por aqui. – Nathur falou. – Nós deveríamos ter pensado nisso.

                - Ah! Nós deveríamos ter pensado em tanta coisa... – Elhud se juntou ao grupo, pronta pra reclamar.

                - Shiu.

                - De novo isso?! Eu juro que...

                - Shiiiiiiu! – Iuha fez de novo, olhando com ar sério para a ladra enquanto se aproximava um pouco mais da borda do grande buraco circular no centro da sala. – Eu ouvi alguma coisa.

                - Eu também ouvi. – Nathur falou sussurrando. – Um barulho horrível. Como algo metálico arranhando a pedra...

  

                O grupo se calou e sabendo no que prestar atenção, ficou fácil de perceberem.

                O som ecoava, escalando a partir das profundezas daquele buraco.  Um barulho baixo de arrastar metálico que batia e tilintava em tempos irregulares.

 

                - Seja lá o que for, parece estar vivo. – Nathur comentou analisando o ritmo do que ouvia.

                - Nada de bom, tenho certeza. – apesar de manter a postura, era notável no tom de voz de Medran o quanto estava aflita. Desde que haviam entrado naquele lugar, ela parecia especialmente tensa e apreensiva e agora segurava firmemente sua arma entre as mãos enquanto olhava ao redor com desconfiança.

 

                - Tá. E a gente faz o que? – Elhud deu uma boa olhada na escuridão do buraco. – Se alguém sugerir da gente descer ali eu juro que jogo a pessoa no mesmo instante.

 

                O grupo se afastou alguns passos em silêncio. Mesmo sem dizer nada, todos pareciam concordar que descer não era uma boa ideia.

 

                - Não podemos ficar só esperando. – Gathes falou. – Seja lá o que estiver lá embaixo, talvez seja um problema se subir. Melhor tomarmos a iniciativa.

                - Como isso?

                - Iuha, você é a que atira melhor. Quer fazer as honras?

 

                O grupo olhou para a caçadora e depois uns para os outros.

                A ideia não parecia necessariamente ruim, mas bem... Também não dava pra dizer que era boa.

                Sem objeções, a caçadora retirou uma flecha da aljava e se aproximou o máximo possível para um disparo descendente em linha reta.

                Não fazia a menor ideia do quão profundo era aquele poço e muito menos do que deveria acertar, então concentrou seus esforços em ouvir o barulho e determinar a partir dele a posição do alvo.

                Ela puxou a corda do arco e já que não precisava enxergar, apenas fechou os olhos e deixou sua intuição e a experiência acumulada ao longo dos anos cuidarem do resto.

                Por um momento, talvez um ou dois segundos após o som do disparo, tudo o que o grupo ouviu foi o som de suas próprias respirações.

 

                - Será que você errou? – Elhud acabou perguntando

 

                Mas então algo parecido a um grito animalesco ecoou e o som de várias coisas estalando foi ouvido. Por fim o barulho metálico arranhando a pedra foi se tornando cada vez mais alto, subindo rápido das profundezas escuras.

                Mais do que de pressa eles se afastaram, agarrando suas armas e assumindo posição de luta.

                Garras foram as primeiras coisas que apareceram e então a indistinta forma de um monstro foi aos poucos se revelando sob a luz dos lampiões.

                Uma criatura negra cujos contornos assemelhavam-se a um inseto gigante, algo como um louva deus ou coisa similar, com espinhos e lâminas espalhadas por seu corpo e quase um metro mais alto que Gathes apareceu diante deles.

                Sua boca se moveu em mais um grito cheio de estalos, alto a ponto de fazer seus corpos vibrarem.  Então sua cabeça percorreu um semicírculo como se observasse a todos ali apesar de não ter olhos aparentes.

 

                - É... Acho que você acertou. – Elhud voltou a falar assim que notou a flecha cravada nas costas do monstro.

 

                Sem pensar duas vezes o mercenário partiu para o ataque, avançando contra a criatura e descarregando um pesado golpe com sua montante, a arma que julgou mais apropriada para o desafio.

                 A espada veio de cima para baixo e foi bloqueada pelo monstro que usou a couraça rígida de seu braço para se defender. Sem esperar por aquilo, Gathes não conseguiu se proteger do contra ataque que de uma só vez rasgou sua a armadura e a pele de seu peito quando o arremessou para trás, de volta por onde tinha vindo.

                O mercenário foi ao chão e Medran correu em seu auxílio.

                Iuha e Elhud dispararam seus arcos, mas somente a flecha da caçadora chegou a penetrar a espessa camada que recobria o monstro. O ataque, no entanto, não pareceu sequer incomodar e também não impediu a criatura de se mover diretamente para frente em direção a Soe.

 

                - Arghin nie! Arkai suitala jahan oparthir. – o monstro gritou, aproximando sua cabeça e presas do rosto da garota que permaneceu estática.

                - Que merda é essa? – Elhud perguntou surpresa, baixando o arco que já estava preparado com uma nova flecha.

                - Ele falou!? A criatura falou!? – Nathur estava igualmente surpreso, segurava o arco apontado para o alvo buscando alguma fragilidade aparente, mas perdeu toda a concentração ao ver o que tinha acabado de acontecer.

                - Hisgma jahui? Katarin! farhamuh!

                - “Você voltou. Devolva o coração ou morra.” – Soe fala. – “Você se aliou ao maldito? Traidora. Será o seu fim.”.

Moon Ghost

Escritor, designer, fotografo, musico, programador, ator, jogador, artista marcial e o que mais der na telha. Criador de mundos e alterador de realidades nas horas vagas.

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