Post mood: Shadow of the Colossus Original Soundtrack - Wander and the Colossus ~Roar of the Earth~
Eu só esperava e esperava...
Naquela tarde uma fina chuva caiu. As gotas de cristal liquido escorriam pelos vidros de minha janela.
Sentia o calor emanado da lareira... o inverno estava próximo de chegar.
O agradavel aroma de ervas preenchia o ambiente e por mais que a xicara fumegante a minha frente parecesse muito convidativa, não me sentia tentado a provar do chá...
Não sentia fome... e tambem não sentia frio...
Eu só esperava e esperava...
As noites passavam... algumas vezes estreladas, outras não...
Algumas vezes havia lua... em outras só a mais profunda escuridão...
Mas em cada uma delas, o resultado era um vazio ainda maior em meu peito...
...E ainda assim eu esperava...
E esperei tanto que um ano se passou...
Minhas mãos fecharam o livro...
Por mais que meus olhos percorressem as palavras, nenhuma delas fazia qualquer sentido...
Minha mente não parava de trabalhar da mesma forma que meu coração não parava de bater.
Estava sóbrio... a primeira manhã sóbrio após uma semana em condições lastimaveis...
E estando sóbrio eu pude decidir, afinal...
Concluir...
"Isto não é vida..." - Disse para mim mesmo. - "Eu já não possuo mais uma vida..."
E foi então que declarei-me como morto.
Com uma tocha incendiei a casa e queimei a maioria de meus bens...
As chamas ergueram-se alto... dançaram a noite inteira...
Assisti a tudo como quem assiste a uma missa e pela manhã, dando-me por satifeito com o espetáculo, decidi que já era hora de partir...
E as gotas caiam como cristal liquido naquela manhã e escorriam pela minha face como as lagrimas que nunca chorei...
...e eu sabia, naquele momento, que provavelmente nunca mais voltaria a chorar...
Foram longos dias de viagem sem comida e nem água...
O sol queimava minha pele durante o dia... e o frio tentava me congelar durante a noite...
...e durante muitos dias de inferno eu andei...
Andei... menos do que esperei...
Mas ainda assim andei até não poder mais andar...
Fraco... quase sem forças sequer para respirar... doente...
Eu nem sequer senti quando meu corpo caiu... mas lembro muito bem do despertar...
Fui acolhido por um velho indio...
Ele tratou meus ferimentos, me alimentou... me manteve vivo...
Sua cabana cheirava a animais, tabaco e ervas medicinais...
Sua pele enrugada, marcada pelo sol, não era mais bela que um sapo de rio...
Seus cabelos brancos e compridos, sempre amarados atrás da cabeça em um rabo de cavalo, pareciam fios de teia tecidos por alguma aranha do mato...
Quando finalmente me recuperei, ele me ofereceu uma faca de pedra e disse em minha lingua...
"Duas vezes você morreu... e duas vezes continuou a viver... os espiritos te guardarão enquanto não chegar a sua hora... vá, saía de minha cabana... você logo saberá o que deve fazer..."
Nunca o agradeci por me ter salvo...
...da mesma forma que até hoje não sei se deveria ter agradecido...
Mas isso tudo faz parte do passado...
Por que estou pensando nisso agora?
Não... agora eu devo simplesmente fazer o que eu sempre faço...
Por duas vezes eu morri... e por duas vezes eu continuei a viver...
Será que realmente há um propósito para isto?
Acreditar nisto não me faz sentir melhor...
...bang...
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