O corpo cansado... a respiração ofegante...
Meus olhos quase se fecham...

...as palavras na página não parecem mais do que borrões aleatórios...

Um suspiro... e então...

"Todos os dias a mesma coisa..."

Meus dedos deslizam pelo papel... eu fecho o livro...

"...todos os dias... a mesma rotina..."

A cabeça pesa e se encosta no banco... um lugar um tanto desconfortável...
O som da musica em meus ouvidos parece um emaranhado de acordes grotescos tocados em teias de aranha... terrível...

Através do vidro é possível ver o céu...

"Acordar cedo... trabalhar... estudar... dormir... e novamente acordar..."

O corpo amolecendo... e as batidas do coração ecoando numa imensidão vazia e lúgubre...
Foi então que tudo ao meu redor desapareceu...

"...todos os dias..."

Eu estava só flutuando na vastidão sombria... olhos fechados... sem nenhum som...
...nenhuma existência...
O calafrio correndo a espinha e arrepiando os cabelos...
De olhos fechados eu ainda podia sentir o céu purpura passando com velocidade acima de minha cabeça... nuvens repletas de humor...
...a brisa acida fazendo a pele arder...

Passos... e uma voz familiar...
...sons de correntes sendo arrastadas...

"Você parece tão cansado..."

Eu não estou cansado. - Tentei dizer, mas foi em vão.

"Tão cansado... e tão esquecido..."

O deslizar sutil do metal frio arranhando o chão...
...o som do ar sendo cortado...

"...tão perdido... não sabe voltar? Não lembra qual é o seu lugar?"

Gotas de sangue pingando da face ferida e a tensão ardendo nos músculos contraídos...

"Fraco..."

Os olhos abertos fitando o céu...
...a dor no corpo... imaginária? Talvez...
As pessoas ao redor surpresas com a súbita reação...
Meros segundos... a mesma música aracnídea ainda a tocar em meus ouvidos...
Nem mesmo um quarteirão havia se passado...

...Fraco, ele disse...
Fraco...
Só eu posso me culpar...