Quando a noite caiu e a lua se ergueu no horizonte, Noova
estava vazio.
Ele havia concordado em atender o desejo de Plim, mas não
conseguia imaginar como seriam as coisas depois disso. Na verdade, ele não
conseguia pensar.
Enquanto caminhavam, atravessando aquele lugar sob as
estrelas, Noova era como uma alma penada cansada de vagar. Plim seguia na
frente, silenciosa e decidida. Em si aquela era uma cena triste.
A pequena dama parou de repente, cercada de grandes pedras
imersas em musgo.
- É aqui... Foi aqui... Como o tempo mudou este lugar, não
é? Por que será que Nadohr o escolheu?
- É verdade... Tudo aqui está bem diferente... - ele
replicou desanimado.
- Noova...
Plim correu até ele e o abraçou apertado.
-... Por favor, não fique triste. Por favor...
- Estou tentando, Plim, mas é duro me despedir de você.
Mudamos assim como este lugar, mas sob as plantas e musgos que cobrem este solo
desfigurado, ainda estão as memórias... Imutáveis... Eternas enquanto houve
alguém para lembrar.
- Eu sei... E é por isto que estamos aqui, não é? Somos os
últimos que ainda se lembram destas memórias que pedem para serem esquecidas...
Dias felizes que se transformaram em lembranças dolorosas...
- Você tem certeza de que é isto que deseja?
- Não vejo outra saída...
As lágrimas começavam a escorrer pelo rosto de Plim. Ela
abraçou Noova ainda mais forte e apertou os olhos na tentativa de conter o
choro.
-... E eu desejava tanto que houvesse.
- Eu também... Sim, eu também... Não serei capaz de lidar
sozinho com isto, Plim... Eu terei de partir e não haverá retorno...
- Lembra quando você foi embora? Da manhã em que partiu? Nós
sempre estaremos juntos, não é?
- Sempre... Só iremos calar a dor...
- Bolinhos de mel... O céu da manhã... Nossas
brincadeiras...
- Tanto poder e ainda assim, tudo o que sou capaz de
fazer... E tudo o que fiz... Foi trazer dor para os que amo.
- Isto não é verdade... Não é em nada verdade...
Os dois se mantiveram em silêncio por alguns instantes,
imersos na escuridão que as nuvens geravam ao passar em frente a lua. O vento
soprava frio movendo a grama e suas roupas.
Uma luz tênue começou a emanar do corpo de Plim e uma onda
de energia se espalhou pelo ambiente. Seus cabelos se tornavam prata e
balançavam leves no ar.
Ela soltou Noova e enxugou as lágrimas com as costas das
mãos. Deu dois passos para trás e fitou Noova nos olhos, exibindo um brilho
esmeralda ao invés do costumeiro azul celestial profundo. Um sorriso se formou
em seus lábios. Um sorriso triste, porém, sincero.
- Vamos lutar... Vamos nos despedir com uma luta, Noova... Lutar
até o fim...
- Sempre juntos...
- Prepare-se, garoto! Aquele que caminha entre dois mundos!
Noova de AnderuthLen!
- Eu estou pronto! Vamos ver do que é capaz, Pequena Dama!
Plim de AnderuthLen!
Os dois assumiram posição de luta e se entregaram a um
glorioso combate entre irmãos. Em suas mentes, a cada golpe um momento especial
de suas longas vidas era recordado. O passado, o presente e o futuro se
misturavam naquela ocisão tão bela e trágica que decorria sob o luar.
Lágrimas escorriam de seus olhos e se misturavam com golpes
e triste sorrisos estampados em seus rostos. A luz da lua refletia em cada gota
e se fragmentava como prisma. Algum tempo se passou até que por fim, com voz de
choro, Plim solicitou em apelo.
- Agora, Noova... Revele seu poder a mim e mostre do que
você é capaz!!
Noova acenou que sim com a cabeça e baixou os olhos. A pequena
dama avançou contra ele, cercada de energia verde e prata e despedindo-se
mentalmente do amigo.
... A conclusão se deu em um segundo...
Naquela manhã quando o sol revelou seus primeiros raios de
luz e iluminou o lugar, exibiu Noova sentado aos pés de uma enorme drusa de
cristal verde. Em seu interior estava Plim, embalada num sono eterno.
As lágrimas não queriam parar de sair e foi lutando contra
si mesmo que o garoto se levantou se começou a se mover.
Estava terminado e a única coisa que o reconfortava agora
era ter afastado a amiga de todas suas dores e medos como ela mesmo havia
solicitado que o fizesse.
E então... O tempo se passou...
Noova nunca mais foi visto...
E Plim, imersa em seu sono, descansava sob o enorme reino
reconstruído por aquele que caminha entre os dois mundos.
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