Insubstituível

Post mood: Gackt - Saikai Story (https://youtu.be/AaBo4I1gPUE)


Há cerca de trinta minutos que o claro céu azul se transformara em um amontoado de nuvens escuras e a chuva torrencial havia começado a despencar.
No vidro embaçado da janela as gotas pareciam apostar corrida e no telhado compor uma canção. A água e o vento volta e meia arrancavam algumas das poucas folhas vermelhas que ainda adornavam as árvores da rua enquanto dentro da casa o calor morno lutava contra o frio de outono, quase inverno.
O aquecedor elétrico exibia sua luz vermelha no meio da sala, sobre as poltronas estavam empilhadas caixas, sobre a mesinha de centro um livro aberto na primeira página onde, escrita a caneta e com caligrafia delicada, havia uma dedicatória.
Uma das janelas tinha a cortina branca fechada e era através da outra que vinha a fraca luz que iluminava os porta-retratos sobre a estante de madeira.
Diversas fotos eram exibidas ali, mas em todas sempre o mesmo casal apaixonado.
Caretas, beijos, abraços, paisagens ensolaradas, mãos dadas, sorrisos e risadas...
Algumas daquelas cenas foram tiradas ali mesmo naquela sala, onde agora no sofá, entre algumas cartas abertas e espalhadas, o rapaz dormia e sonhava.
Sonhava com um desses dias...
Com a maneira como ela mordia o lábio e apertava os olhos sempre que planejava algo suspeito. Com a forma como ela sempre confundia os dias da semana e certa vez acordou cedo e se arrumou para o trabalho em pleno sábado.
Sonhou com sua joia favorita, seus sapatos favoritos, sua roupa favorita e como ela vivia perdendo tudo isso dentro do próprio quarto.
Era ele quem sempre encontrava.
"E é por isso que você é meu namorado favorito." - dizia ela, provocando.
Ele se fingia de bravo...
"Quer dizer que tem outros namorados?" - e uma luta de mentirinha começava.
Como crianças os dois pulavam sobre a cama. Corriam pela sala, ao redor da mesa da cozinha e de volta pro quarto. Se arremessavam travesseiros, almofadas, bichos de pelúcia e um ao outro na cama, que era onde sempre terminavam.
Sonhou com seu mau humor matinal e com seu pijama de coelhinha. Com a maneira como ela se largava no sofá e pegava uma revista. E como então, nem quinze minutos depois, ela dormia.
Todos os presentes que trocaram e todas as coisas que ela ainda queria.
Sonhou com como ela ficava linda quando estava irritada e ainda mais magnífica quando sorria.
Sonhou com mais um dia... E mais um dia...
Sonhou com o quanto a amava...
Com o quanto ela era especial e com tudo que um dia eles fariam...
"Juntos!" - eles se beijavam e diziam.
E então ele a provocava.
Ela ria, retrucava e ameaçava:

-  Olha lá, ein! Eu te ponho pra dormir na sala!

E era lá que ele estava...
Foi o vento que entrou de repente e fez uma das portas bater e um dos porta-retratos cair.
Ainda sonhando, meio dormindo, meio acordado, ele chamou:

- Sofia?

Sem ouvir resposta, ele lembrou...
...E chorou.

Não...
Ela não estava mais lá...

...Nunca mais estaria.

Na dedicatória do livro as palavras...

"Até que a morte nos separe.
Com amor.

Sofia."

Moon Ghost

Escritor, designer, fotografo, musico, programador, ator, jogador, artista marcial e o que mais der na telha. Criador de mundos e alterador de realidades nas horas vagas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário